Conseguir seu primeiro emprego como product manager não é fácil. Não existe um caminho óbvio, como uma faculdade de product management. Porém, conversando com alguns PMs dá pra ver que existem alguns padrões para entrar na área. Pra ajudar mais pessoas a encontrarem o caminho da primeira vaga em produto, perguntamos para uma porrada de PMs:
Com isso descobrimos que os principais caminhos para virar PM são:
Não por coincidência, o caminho mais “óbvio” é trabalhar em proximidade com gerentes de produto, por exemplo na engenharia ou design do produto:
“Conheci (e me apaixonei) pela área de produto quando estava trabalhando como desenvolvedora front-end. Não tínhamos uma área dedicada para produto e quem fazia o papel de PM era o próprio CEO. Sempre que podia perguntava sobre como ele priorizava os problemas e o que pensava pro futuro. Dessas conversas percebemos que talvez uma área dedicada seria o melhor caminho dado o tamanho que já tínhamos. Eu disse que topava o desafio de criar essa área. Passamos alguns meses alinhando as expectativas e me inteirando mais sobre o negócio, e na virada do ano saí do time de desenvolvimento para começar a equipe de produto.”
– Nanda Dias, Product Manager na Konduto
“Eu trabalhava com desenvolvimento de software desde a faculdade. Depois de algum tempo atuando na profissão eu sentia falta de poder ter mais tempo para entender que problema estava resolvendo, quem eram os clientes que precisavam daquela solução e quais eram suas necessidades. Quando essa vontade começou a ficar mais forte eu estava trabalhando em um squad com outros dois desenvolvedores. Éramos só nós três, sem PM, PO ou qualquer outro papel de negócio. Então sofríamos pressões de todos os lados diretamente. Eu procurei meu líder e me ofereci “será que eu posso tentar atuar como PM no time?“
– Ana Carolina Alves, Group Product Manager na Delivery Much Brasil
“Eu iniciei minha carreira como programadora front-end. Depois fiz uma pós em Design de Interação, virando UX. Depois de mais de 10 anos como UX, já numa posição de gerência, eu estava muito mais próximo da estratégia de produto. Nesta fase eu entrei em uma startup para formar o time de produto, primeiro como UX Designer Senior e logo migrando para PM, como a primeira PM da empresa.”
– Monica Possel, Product Manager na Softplan
Mas não necessariamente só engenharia e quem trabalha no time de produto tem a chance de usar este caminho. Dependendo da empresa, outras áreas fora de tecnologia também lidam diariamente com PMs:
“Sempre trabalhei com SEO na área de marketing, mas por ser uma área que demanda muito do time de tecnologia, houve uma mudança de estruturação e fui para a time de produto. Comecei a explorar: li livros, fiz cursos e workshops, mas o mais importante foi colocar a mão na massa para colocar os conhecimentos em prática.”
– Bruna Mirkhan, Product Manager no Grupo ZAP
“Eu trabalhava no desenvolvimento de novos negócios numa multinacional de investimento. Eu auxiliava as startups estrangeiras investidas pelo grupo a ingressarem no mercado brasileiro. Foi nessa época que descobri o que era Product Management e me apaixonei. Percebi que muitas das coisas que eu fazia, faziam parte das responsabilidades de um PM. Fui preenchendo os meus gaps com cursos e leitura, até que o meu primeiro ‘sim’ chegou.”
– Erika Fer, Product Manager na iFood
Outro caminho muito comum é ver a migração de profissionais que lidam diariamente com o cliente da empresa transicionando internamente para produto. Afinal, gerentes de produto precisam entender muito do cliente para poder desempenhar bem seu papel.
“Após finalizar um curso de Product Management, comecei a buscar oportunidades. Mas sem experiência na área, não consegui uma vaga. Então surgiu uma oportunidade na área comercial de uma startup, decidi postergar o sonho de produto e aceitar a vaga. Trabalhar com vendas é uma excelente oportunidade de identificar os pontos de evolução que o produto necessita direto da fonte (usuários ativos e potenciais). Ao trazer constantemente esses feedbacks, ganhei a oportunidade de colocar a mão na massa e desenvolver uma dessas melhorias que eu tanto sugeria. Foi assim que migrei internamente para a área de produto.”
– Martina Scherrer, Product Manager na Resultados Digitais
“Comecei minha carreira em empresas super tradicionais, trabalhando com auditoria em um banco de investimento. Um dia criei coragem pra ‘largar tudo’ e começar na área de Sucesso de Cliente em uma startup aqui no Rio. Em paralelo às tarefas do meu cargo, comecei a criar vários pequenos projetos pra levantar dados e unir a área de Sucesso à de Produto, de maneira completamente autônoma. Assim começou meu contato com esse universo e, quando surgiu a oportunidade, fui convidada pra trabalhar como Gerente de Produto Junior na empresa onde estava.”
– Gabriella De Napoli, Product Manager na iFood
“Um head de produto em uma startup comentou que queria começar a desenvolver um produto focado para a área de Customer Success. Ele tinha pensado em mim, pois eu trabalhava com CS, já tinha empreendido em uma startup focada nessa área e também estava envolvido na comunidade brasileira de CS através do podcast Cliente Cast. Como era um produto focado em algo que eu era especialista, fez sentido para eles escolherem alguém que não tinha experiência em produto mas conhecia muito do mercado.
– André Almeida Scaff, Product Manager na Loadsmart
“Acredito que os caminhos mais simples para migrar para produtos são por UX, tecnologia ou negócios. No meu caso, foi o conhecimento do negócio e a experiência em marketing que fizeram a diferença. Fui contratada pra ser PM de um produto financeiro, como eu trabalhava com investimentos e educação financeira, eu já tinha um bom conhecimento do negócio.”
– Iris Sayuri Kazimoto, Product Manager na Easyinvest
“Eu nem sabia o que era gerente de produto, mas eu já tinha feito o papel de PM quando fui responsável por produto em uma startup que fundei. Ela não deu certo, então voltei a trabalhar com o que eu fazia: marketing digital. Um dia conheci a Resultados Digitais, que fazia um produto para profissionais de marketing digital. Eu podia ser um usuário do produto, conhecia as dores e como funcionava o mundo do cliente, parte do que eu precisava saber como PM da RD já estava lá. Minha experiência em startup foi a cereja no bolo pra eles apostarem em mim e eu conseguir meu primeiro cargo em produto.”
– Sérgio Schüler, Head de Produto na Re:ceeve
Startups em início de vida não têm papéis bem definidos. Tem muito mais trabalho do que gente pra fazer. Então assumir responsabilidades relacionadas à produto é uma boa oportunidade.
“Entrei no VAGAS.com quando a startup estava começando, e acabei trabalhando em muitas áreas: suporte, comercial, treinamento para clientes e customer success. Nesse percurso aprendi muito sobre as dores e necessidades dos clientes, sobre como nosso produto atendia (ou não) essas dores, além de saber claramente sobre o mercado, a estratégia e o modelo comercial da empresa. Com o crescimento da empresa, começamos a sentir a necessidade de ter alguém focado na evolução do produto, um time dedicado a essas evoluções. Nesse momento os fundadores me convidaram para criar a “Área de Produtos”. Depois de muitos erros e acertos, muito benchmark com outras empresas, formações mais específicas (como Product Owner) e a experiência de outros profissionais que contratamos para o time, começamos a dar “forma” a um time de Produtos tal como conhecemos hoje.
Hoje sei que o conhecimento profundo sobre o negócio e o cliente, somado aos conhecimentos em psicologia, pesquisa e projetos me guiaram e me ajudaram muito a desenvolver a carreira em Gestão de Produtos. Mas não posso negar que isso foi possível graças a ‘sorte’ de ter aceitado o desafio de trabalhar em uma startup (e em um dos primeiros SaaS do Brasil) ainda em 2007.”
– Fernanda Novak, Product Manager na Cora
Um caminho mais estruturado é se candidatar para programas de trainee, estágio e APM. Apesar de mais estruturado, esse é um dos caminhos mais raros, pois poucas empresas no Brasil têm programas para formar product managers.
“Sou formado em Ciência da Computação e tive a oportunidade de atuar em produtos pela primeira vez no programa de Trainee Executivo da Oi, onde passei pela área de gestão operacional de produtos (cuidar de um produto já existente) e também pela área de Implantação de produtos (criar um produto novo do zero).”
– Alexandre Dedavid, Big Data Group Product Manager na OLX Brasil
“Comecei minha vida profissional no Itaú Unibanco, como estagiário de um PO em uma área chamada Canais Digitais. Eu estava alocado em um time que olhava para os canais digitais do banco na América Latina.”
– Rawley L S Martos, Product Manager na Nubank
“Na época a Resultados Digitais estava contratando estagiários de produto nos cursos mais técnicos, como engenharia. Vindo de uma engenharia que tem certa ênfase em software, o background técnico era meu pilar de conhecimento mais sólido. Além deste, os diversos estágios durante o curso, resolvendo problemas reais que empresas do setor enfrentam, trouxeram uma boa noção de como era o mundo dos negócios para acelerar meu entendimento de problemas em produto.”
– Tiago Nunes Resmini, Senior Product Manager na Resultados Digitais
Além de seguir os caminhos apresentados, note que várias dessas histórias tem duas características que se repetem: 1) a pessoa procurou suprir o que faltava no seu conhecimento; e 2) muitos começaram a trabalhar como PMs antes de ser PMs.
Existem muitos artigos sobre o que habilidades, comportamentos e conhecimentos PMs devem ter. Dentre um dos mais famosos está o artigo de Martin Eriksson, no blog da Mind the Product, que define product management como a intersecção entre tecnologia, experiência do usuário e negócio.
Por conta desta mistura eclética, gestão de produto é uma disciplina difícil, pois é necessário ser bom em áreas muito distintas. Pessoas que querem virar PMs (ou que já são e buscam melhorar), precisam estar cientes sobre quais partes do “tripé” são fortes e em quais precisam melhorar, como nossos entrevistados:
“Foi então que da minha saída no Itaú até conseguir meu próximo emprego, o que levou em torno de 9 meses, eu me dediquei a aprimorar as seguintes habilidades:
1. Conhecimento técnico em programação: depois de aprender o básico na faculdade de engenharia, fui estudar um pouco mais de python, sql e programação orientada a objetos para poder me comunicar melhor e entender melhor o que desenvolvedores falam.
2. Metodologias Ágeis: fui entender ainda melhor outros frameworks de metodologia ágil, fugindo do scrum que aprendi no Itaú.
3. Experiência do usuário e product discovery: para aprender um pouco melhor como identificar necessidades dos usuários, boas práticas para entrevistas e também entender um pouco mais sobre usabilidade de produtos de um modo geral (e.g. reduzir etapas num fluxo cadastral pode otimizar conversão, ou deixar o botão de avançar mais perto do canto direito inferior da tela incentiva o usuário a seguir no fluxo, etc).
4. Mapeamento de processos: pode parecer besteira, mas muitas vagas de PM/PO são para produtos e processos internos de uma empresa, entender sobre mapeamento de processos para identificar pontos de melhoria, bem como ajudar a ilustrar um fluxo complexo para o time de desenvolvimento em cenários complexos como esse é algo essencial.”
– Rawley L S Martos, Product Manager na Nubank
“Vir do mundo de atendimento ao cliente foi essencial pra chegar no centro do trabalho do PM. Com essa habilidade desenvolvida, pude focar em técnicas do dia a dia de PM para complementar minhas habilidades. Por exemplo, aprender mais da tecnologia, do negócio e de métricas. Com certeza hoje, se pudesse escolher de novo por onde começar, não pensaria em outra área que não fosse no atendimento.”
– Mariani Cavalini, Product Manager na VTEX
Durante quase seis meses eu atuei como PM e Dev no mesmo squad, foi um momento de grande aprendizado na minha carreira. Desenvolver mais a visão de negócio, me envolver com outras áreas da empresa como marketing, vendas e conseguir manter uma relação de confiança com o meu time forem essenciais.”
– Ana Carolina Alves, Group Product Manager na Delivery Much Brasil
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Outro ponto é que por ser um papel tão híbrido, as funções de product management muitas vezes são desempenhadas por pessoas que não são PMs. Não há forma mais contundente de mostrar que você pode ser PM ao fazer parte do trabalho que um PM faria, como alguns dos entrevistados:
“Após 3 anos trabalhando no time de Customer Success da RD, comecei a participar de alguns experimentos junto ao time de Produto. Meu papel era compartilhar a experiência que eu tinha do atendimento de clientes e, junto com o time de produto, criar hipóteses e desenhar soluções para resolver os problemas identificados. Essa experiência foi decisiva para que eu pudesse conhecer melhor os desafios de um time de produtos e trilhar os meus primeiros passos como Product Manager.”
– Laiz Souza, Product Manager na Resultados Digitais
“Eu era gerente de desenvolvimento em uma startup. E como uma boa startup, eu fazia um monte de coisas, parte desses coisas já eram da esfera de responsabilidade de um Product Manager. Quando identifiquei que existia um papel que estava começando a tomar forma no mercado, procurei todo o material e cursos e comecei a direcionar minha carreira para área de produtos.”
– Heron Alves, Product Manager na Hotmart
“Produto era um caminho ‘contra-intuitivo’ para alguém com a minha formação. Então comecei gerando valor através de coisas que eu sabia fazer bem: análises de bancos de dados para gerar insights para o negócio.”
– Alexandre Dedavid, Big Data Group Product Manager na OLX Brasil
“Na verdade eu tenho uma história de empreendedor frustrado. Tinha acabado de testar dois produtos. Quando um dos outros sócios decidiu que íamos para o terceiro, decidi seguir novos caminhos. Na mesma época, um amigo na PSafe perguntou se eu tinha alguém para uma vaga de produto. Falei: ‘eu’. Ele falou que era um vaga para alguém mais experiente de produto e eu disse ‘vou aí e trabalho duas semanas, depois tu diz se eu consigo ou não a vaga’. E foi assim que entrei na área de produto, cavando a minha vaga!”
– Éfrem Maranhão Filho, Data Product Manager na Loft
“Considero que comecei minha carreira em produto tentando empreender. Quando estávamos falhando fui descobrir que tinham muitas coisas além do Lean Startup, uma disciplina inteira. Me aprofundei na literatura de produto e coloquei muita coisa em prática. Eu devo muito da minha carreira de PM aos momentos onde eu não estava tentando ser PM, e sim tentando fazer produto.”
– Gabriel Werlich, Group Product Manager na Involves
Ideias do que você pode fazer para botar a mão na massa antes de ter o cargo de PM:
Faça uma análise: faça uma análise de algo que você tem relação. Por exemplo, se você trabalha no suporte, analise os tickets de suporte e oferece insights sobre os times de produto de quais são os problemas que mais se repetem no suporte.
Vá além do pedido do cliente: quando um cliente pede algo, não se contente em receber o pedido. Entenda por que o cliente tem esse pedido. Qual é o problema por trás da situação? É realmente um problema sério ou é algo bacana, mas não essencial? Aqui a framework de Jobs-to-be-Done pode ajudar bastante.
Estude os movimentos da concorrência: veja o que os concorrentes estão fazendo e tente fazer uma “engenharia reversa” do pensamento deles. Que problema eles podem estar querendo resolver com o lançamento? Por que optaram por este caminho?
Tenha um side project: fazer um projeto, tentar criar um app, tentar vender algo ou até criar sua própria startup. Não tem nada que diz mais “ei, eu posso ser gerente de produto” do que de fato criar um produto.
Teste uma hipótese: tem uma hipótese de como melhorar o produto? Tente criar um teste que você consiga executar e mostre para o time de produto o resultado.
Crie uma narrativa sobre o que você faria diferente no produto e por quê: pensar sobre produto (e botar no papel) é uma prática importante para PMs. Tente pensar em algo que você faria radicalmente diferente no produto, como por exemplo, focar em outra persona, criar uma nova funcionalidade, criar um novo produto, etc e justifique.
Com isso, tenho certeza que você vai conseguir. Afinal, resiliência é uma competência importante a ser trabalhada como PM 🙂
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