Esse post é para quem já está convencido de que jobs-to-be-done (JTBD) é uma boa framework e está buscando uma forma de botá-la em prática em entrevistas qualitativas com clientes. Esse artigo não explica o que é jobs-to-be-done (JTBD), nem por que usar essa metodologia. Se você quer saber mais sobre o assunto, recomendo muito o ótimo livro Muito Além da Sorte (Competing Against Luck), do Clayton Christensen. Ou fazer o meu curso online: Jobs-to-be-Done na Prática.
Muitas vezes quando queremos entrevistar um cliente, queremos falar com quem não fez a ação X que você quer promover. Isso não funciona com JTBD. Você precisa entrevistar quem tem a job, ou seja, sentiu uma insatisfação com a condição atual e agiu para melhorar essa situação.
Dessa forma, se você quer saber quais são as jobs de um cliente que analisa campanhas de e-mail marketing, necessariamente você vai ter que falar com quem já enviou campanhas e já tentou analisá-las de alguma forma.
Ah, o ideal é que a pessoa tenha feito o que você deseja estudar recentemente. Quanto menos dias melhor, até um máximo de 90 dias. Mas isso varia um pouco com a importância da job e da decisão.
A principal diferença das entrevistas qualitativas normais e as de jobs é que na última não há um roteiro predefinido. Isso pode soar desorganizado, mas não é o caso, pois todas as entrevistas de job-to-be-done têm o mesmo “roteiro”: a timeline de eventos.
O objetivo da entrevista qualitativa de JTBD é criar uma timeline, como se fosse um mini-documentário, da vida do usuário desde o momento em que ele primeiro sente a dor, até a hora em que ele “contrata” (hire) uma solução para o job e avalia sua satisfação com ela. Você pode inclusive explicitar a parte do documentário para o usuário no início da entrevista, algo como:
“Essa entrevista é bem informal, eu estou no início de um estudo sobre as palavras que as pessoas usam quando escolhem o vinho para beber em um restaurante. Por isso não tem resposta certa ou errada, eu quero entender. Para isso eu vou usar uma técnica que é como se eu estivesse filmando um documentário da última vez que você foi a um restaurante. E aí não estranhe se eu fizer perguntas meio estranhas, como como estava o tempo no dia, com quem você estava, a temperatura do restaurante, o que você pensou na hora, etc. Isso serve pra que eu entenda bem o contexto da situação e vai ajudar você a lembrar mais dos detalhes também. Comece me falando quando foi a última vez que você bebeu vinho em um restaurante.”
Essa abertura tem algumas coisas interessantes que podem passar despercebidas:
O documentário deve abordar desde a primeira vez em que a pessoa pensou no assunto, ou seja, o primeiro momento onde sentiu a dor, até o momento em que o cliente avalia a satisfação com a solução “contratada” para aquela job-to-be-done.
Quando você está “filmando” um documentário onde a job é suprida por uma compra, como a de um colchão novo ou uma cama maior, essa timeline é relativamente simples. Quando estamos falando de uso de software, como por exemplo o disparo de uma campanha de email marketing, isso é um pouquinho mais complicado, pois o “big hire” foi adquirir o software, mas cada novo uso desse software são novos “little hires”.
Toda vez que eu termino uma entrevista, eu reflito e respondo as seguintes perguntas:
De posse de todos esses inputs, uma boa forma de compilar o conjunto de informações para escolher as jobs e job specs mais importantes para projetar a solução é contando a quantidade de vezes que uma job surgiu e quais suas specs:
2. Job ASD (5x)
…
Eu tenho um curso focado em como conduzir entrevistas de jobs-to-be-done. Lá eu explico passo a passo sobre como fazer (em mais detalhes do que é possível em um artigo), além de oferecer uma série de exercícios.
Desde 2017 mais de 100 pessoas passaram por ele, com ótimos feedbacks: