Essa é a transcrição do podcast “Episódio 6 – Usando feedbacks de usuários para criar produtos com Demian Borba”. O link para ouvi-lo está no final desse conteúdo.
Sabemos que feedbacks são sempre importantes e muito bem-vindos, e esse é o assunto da nossa conversa com Demian Borba, o sexto convidado do Product Backstage.
Demian, que nasceu e cresceu em Curitiba, e dos 18 aos 26 anos morou em Maceió, se formou em Ciências da Computação, e logo após foi morar nos Estados Unidos. Estudou na Universidade San Diego, e começou sua carreira trabalhando em agências, virou diretor, trabalhou também como Evangelista de Desenvolvedores na BlackBerry e PayPal, e logo após, surgiu a oportunidade de trabalhar na Adobe, onde ficou por quase 6 anos.
Sua trajetória é longa, e suas dicas são valiosas! Então se prepare que o nosso papo é uma aula.
A: Bom, está sendo uma experiência nova gravar ao vivo aqui agora, não sei como é que vai funcionar esse troço, mas… Vamos ver como é que vai sair aqui. É… Então, de uma forma geral, sejam muito bem-vindos a mais um product backstage, agora ao vivo aqui na Pcamp, e eu vou entrevistar hoje o Demian. É… a gente vai falar um pouquinho… Enfim… Um pouquinho da história dele, mas também um pouquinho sobre como é explorar é… Feedback de usuário de uma forma geral para construir um produto no final do dia. Então, acho que vai ser o tema principal da conversa de hoje. Então Demain… Cara, pra gente começar a conversa aqui, tu acabou de sair de uma palestra onde tu falou um pouquinho aí da tua trajetória também, mas fala um pouquinho aí… Cara, por que que estudou, e como é que foi a tua trajetória até chegar na Adobe? Encurtando porque eu sei que ela é longa, né?
D: Claro! Claro! A minha história é bem maluca, assim… Eu acho que muitas das pessoas que caíram no time de produto, em algum time de produto da Adobe, vieram de backgrounds diferentes, assim… Acho que muitos PMs eram talvez engenheiros e viraram PMs, às vezes, designers também, às vezes pessoal de QA, tem bastante coisa… Falando um pouco da minha carreira, eu sou curitibano, morei até os 18 anos em Curitiba, fui para o nordeste, minha mãe foi transferida pelo banco pra lá, morei em Maceió até os 26 anos, 25 ou 26 anos, me formei em Ciência da Computação lá, aí fui para os Estados Unidos pra estudar Business, numa universidade lá, na Universidade San Diego, e lá tem uma regra imigratória que se você estudar qualquer coisa que não seja inglês por pelo menos 9 meses, você recebe uma permissão para trabalhar por 1 ano, e eu entrei, se chama OPT. Aí eu fiz isso, peguei a permissão, trabalhava com Flash, com agências naquela época, comecei a trabalhar em agências, virei diretor de uma agência lá, foi super legal, e depois tive a minha própria agência numa época que foi… [interrupção] E tive a minha própria empresa numa época bem complicada nos Estados Unidos, de crise e tudo, e foi assim um… Um cenário bem difícil pra mim, mas aprendi muito também, e aí quando eu tava num momento mais tenso, assim… Eu fui para um Hackathon em Las Vegas, com um amigo meu que estava na agência também, e a gente ganhou o Hackathon. Na época era o maior Hackathon nos Estados Unidos, da At&T em Las Vegas, e a gente ganhou, ganhou lá… Aí a BlackBerry viu aquilo e me chamou para trabalhar com eles como Evangelista de desenvolvedor, aí fiquei na BlackBerry por 2 anos, nos bons dias da BlackBerry, foi super legal, viajei o mundo inteiro e tal, aí depois saí da BlackBerry, voltei para o Brasil, fiquei um pouquinho no Brasil, alguns meses, mas fiquei louco para voltar para os Estados Unidos. Aí comecei a aplicar novamente, aí consegui uma vaga no PayPal, como Evangelista de desenvolvedores, ensinava lá o pessoal a fazer integração com bitcoins e tal, com várias formas de pagamento, na época que o bitcoin valia menos de 100 USD e eu não comprei nenhum…
A: Perdeu a chance de ficar rico?
D: Provavelmente não estaria aqui, né? Não, brincadeira! Mas, é… E aí depois… Depois disso tudo eu estava muito cansado de viajar demais, e como Evangelista você está o tempo inteiro em evento. Aí apareceu essa oportunidade na Adobe, eu já tinha esse background de design thinking, que eu já tava treinando várias pessoas. Entrei num negócio que eu nem sabia o que que era, que era secreto, ninguém podia falar ainda, tinha 30 pessoas no time, e se transformou no Adobe XD, mês a mês ele vem evoluindo, e hoje a gente tem quase 500 pessoas no time, quase 20 product managers, vários squads… E hoje eu tô criando um time mais focado em discovery. Então uma extensão do time de produto, mais focado em discovery. É o que eu tô fazendo agora e esse ano que vem também, a gente está expandindo para outros países também.
A: Legal! É… Pegando alguns outros pontos dessa história que tu contou, mas… Como é que foi pra ti essa transição de sair do Brasil, ir para o mercado americano, a gente estava conversando ali um pouquinho antes da gravação sobre isso também, mas o que que tu vê diferença prática, se é que tu vê alguma coisa, entre trabalhar Estados Unidos e Brasil, e por aí vai…
D: A gente até tava falando aqui agora a pouco, né? Eu acho que… Tem uma diferença, mas é uma diferença cultural. Eu acho assim, o brasileiro não deixa nada a desejar ao americano, absolutamente nada, a única coisa é a cultura de trabalho, eu acho assim… Lá, dá 5 horas da tarde, 6 horas da tarde, o pessoal sai, tchau, vou pra minha família, e desconecta 100% para ficar para a família. Ao mesmo tempo, enquanto eles estão no escritório, eles estão trabalhando. Ninguém enrola, ninguém fica ouvindo podcasts, lendo blog post por horas e horas… Então o pessoal trabalha mesmo, acho que é… Tem essa questão cultural talvez, que eu vejo muito no Brasil: Ah, depois do Carnaval a gente começa. Não tô dizendo que vocês sejam assim, entendeu? Mas tem isso muito no brasileiro ainda, e chegar atrasado em reunião e tal… Eu não sabia, mas eu tava falando com a Michelle, ela falou pra mim, que aqui quando ela faz reunião, às vezes, o pessoal fala com os americanos… Os americanos perguntam: Brazilian time? Tipo, é o horário brasileiro que é… Não é no horário certo, né? Chega a ser feio assim para gente, né? Esse cenário, mas é… Eu acho que essa questão cultural é um pouco diferente. Empresas como o Nubank e essas empresas que estão inovando, elas têm essa cultura de: Enquanto a gente tá aqui vamos trabalhar, enquanto a gente tá com a nossa família, vamos ficar com a nossa família. E eu acho que é… Essa diferença cultural é um dos principais pontos, assim…
A: E depois de ter passado por, cara… BlackBerry, PayPal, Adobe, é… O que que tu vê de segredo dessas empresas? O fato de elas terem dado certo… Tu vê alguma diferença até de experiências anteriores que tu teve? Olhando para outras empresas, Estados Unidos ou Brasil, enfim, tem algum segredo nisso?
D: Eu acho que elas tão… Têm, assim, um foco muito grande em estar sempre tentando melhorar, seja no processo de contratação, seja no processo de manter os empregados… Tem gente no meu time que está na Adobe há 30 anos, cara! 30 anos! Sabe? Tem gente que trabalhou no Reader 1, é… É um negócio, assim, muito muito maluco. E eles… Como é que eles estão lá há tanto tempo, né? Deve ter um porquê. Então a Adobe, ela, ela… Falando mais da Adobe mais recente, ela tem um cuidado muito grande com os funcionários. A gente, globalmente, todo mundo tem o mesmo salário homem e mulher, não tem diferenciação, tem muito incentivo para outros gêneros também, assim, pra não ter preconceito, aceitar. Diversidade é muito forte na Adobe. Os benefícios são enormes, eu tive o meu segundo filho agora esse ano, eu fiquei 4 meses como pai, sabe? De licença paternidade. Então tem todo esse cuidado que: Pra que que eu vou sair, sabe? Se eu tenho todas essas coisas… Por que que eu não vou dar o meu melhor? Se eu tenho todas essas coisas… Então eles têm um cuidado muito grande com o funcionário, mas também um cuidado muito grande em estar sempre melhorando o que já existe.
A: Legal! E… E agora pegando justamente esse gancho da Adobe, é… Hoje, olhando lá no LinkedIn tu se identifica também como Outbound Project Manager. O que exatamente é isso, cara?
D: Então, isso é uma… Uma… Uma… É muito difícil explicar. O meu cargo oficialmente é Strategic Developer Manager, é mais difícil ainda. Mas a ideia é… Pra criar o contexto certo, na época do vídeo, não sei se vocês lembram, na época do Final Cut versus o Premiere, existia uma guerra muito grande, né? O Final Cut como grande… Grande líder do mercado de vídeo, tinham o Avid também, que era bem grande, e isso foi há muitos anos atrás. Então foi montado um time dentro da Adobe que era uma mistura de Business Development, mas com uma pegada enorme de produto. Então, não era vendas, não era… Sabe? Era: Vamos colar nos nossos clientes, vamos entender as dores deles e trazer isso de volta para os times de desenvolvimento. E a longo prazo o Premier ganhou. Então o Final Cut não é mais o líder, o Premiere hoje é o software mais usado pra vê edição de vídeo globalmente, vários filmes… O… O Terminator agora foi feito nele, vários filmes que estão agora nesses festivais grandes foram feitos neles.. Então assim… O meu time agora ele é focado nisso, só que na hora de UX e design, que é UXD, e começou comigo, nos Estados Unidos, tinha um cara na Europa. Hoje tem… Acho que quase 20 pessoas nesse time, e a nossa ideia é realmente ter esse chapéu de product manager dentro dos clientes pra testar tudo o que está sendo feito antes de ser lançado, identificar os problemas, identificar as dores, mas realmente gerar os insights, enquanto o time de produto está lá realmente com os engenheiros e tal. Eu tive na época de product management, core product management, eu tinha lá o meu time de engenheiros… Então agora não tenho um time de engenheiros, mas a minha função realmente com esse meu time é organizar feedback, quantificar esse feedback qualitativo, né? Porque a vai no cliente, a gente consegue coletar tudo isso com muito detalhe, e trazer isso para o time de produto, influenciar o time de produto, gerar o nosso backlog e… Tá sendo muito bacana, assim, expandir isso. Esse é o meu cargo hoje.
A: Legal! Hoje a gente fala muito também de ter research, né? UX research dentro dos times e etc. Junto nessa função que tu faz, tem também pessoal de research? Tu meio que faz essa função? Como é que funciona isso?
D: Na Adobe especificamente a gente tem o time de design… A organização de design na Adobe, ela serve vários outros times. Então, tem uma org geral que se chama design, e dentro desse órgão de design tem os designers e tem o pessoal de pesquisa, os pesquisadores, os researches, e todos esses caras, eles servem todos os apps. Então, alguns estão no XD, alguns estão no Photoshop, alguns tão no Premiere. Então assim, é legal que esse time de designer se organiza de uma forma única, pra até garantir uma consistência entre todos os apps, né? Todos os serviços. A gente tem um design system… Um design system nosso que a gente deixou público agora, que é o Spectrum, se você for em spectrum.adobe.com, lá tem o design system que a gente usa, e tá sendo bem bacana isso. Então, dentro do time de design tem a parte de pesquisa formal mesmo, aquelas pesquisas que demoram 2 meses, 3 meses… Que eles passam 2 horas com cada cliente… Eu tava até agora, há 2 semanas atrás no Google com o time de pesquisa. Então eu os ajudo eles, eu tô nas pesquisas também, esse é o lado mais formal da pesquisa. O time de produto faz pesquisa quando viaja, quando vai nos clientes, quando é uma coisa mais rápida, e o nosso time fica mais no meio do caminho, como Discovery e realmente mapeando todos os engajamentos que a gente faz. Então eu vou no Amazon, eu vou no Google, aí a gente coleta todas as informações num sistema que a gente criou, um sistema próprio, que tá sendo super útil também, e aí ao longo do tempo a gente consegue voltar e ver de forma qualitativa o que que foi… O que que foi solicitado, quais são as dores, quantas pessoas… A gente pode até ver, por exemplo, se eu fui 10 vezes no Google esse ano, como é que tá o uso do XD… Agora não estão usando mais sketch, estão usando Figma, então você consegue identificar tudo isso de uma forma mais qualitativa.
A: E nessa experiência toda que tu teve usado o feedback de usuário, usando comunidade para construir produto, é… Quais foram os maiores aprendizados que tu teve nisso?
D: Esse foco no usuário eu acho que é fundamental. O time do XD é um time novo, a gente começou há 4 anos atrás, um pouco mais, quase 5 anos atrás. Ele começou como uma startup, dentro da Adobe, com 4 pessoas, hoje tem 500 como eu falei, diretamente, assim, ligadas ao XD, e a forma de se criar o XD foi bem diferente da forma que se criou o Photoshop, por exemplo. Tanto que pra você aprender Photoshop você tem que ir numa escola, você tem que… Não é muito intuitivo, você tem que saber o que que tá acontecendo ali para poder usar o Photoshop. E o XD desde o começo a gente tentou deixar ele simples, fácil de aprender… E como é que a gente valida isso? É falando com o usuário. Então desde o comecinho a gente tá sempre conectado com os usuários, todos os products teams, a gente tem times nos EUA, os squads, né? Tem nos EUA, na Romênia e na Índia. E todos esses squads, eles tão sempre com os clientes também. Então esse foco de entender o problema, testar as soluções, testar as hipóteses antes de lançar, tá desde o começo… E uma briga enorme que a gente comprou também, que foi diferente, é que… Diferente do Photoshop que era lançado a cada seis meses, o XD é lançado a cada mês. Até hoje em dia a gente tava analisando se esses outros apps pra fazer isso também. Mas imagina os times de marketing que tavam acostumados a lançar… A preparar toda a campanha, um ano, seis meses, agora todo mês, todo mês, todo mês, todo mês…. Então assim, a gente comprou muitas brigas, no bom sentido, assim, é… Criou muito atrito e tal, mas a longo prazo esses dados que vinham dos clientes sempre ajudaram e eu acho que está provando, o XD tá indo bem, a gente tá sempre ouvindo, tentado evitar ficar viciado assim na competição, pra não se influenciar, mas o foco no usuário, o foco no problema tá lá desde o começo.
A: Na prática… Tu faz o que? É tipo… Realmente vai lá no cliente e entrevista ele? Vê ele usando o produto? Enfim, como é que é o negócio na prática mesmo de pegar e colher esses feedbacks?
D: Então, por exemplo, vamos supor… Ã… Onde é que eu tava? Eu fui na Intuit, que é uma empresa de… Eles fazem o Turbotax, eles fazem o… Tem vários apps muito legais, é líder lá de sistemas financeiros de taxas lá nos EUA, tipo imposto de renda. E eles têm um sistema de design muito grande, tem quase 200 designers, entre Mountview e San Diego. Aí eu fui lá, pra conhecer o time de design, aí quando eu chego lá na reunião, a gente tem mais ou menos 1 hora, 1 hora e meia, tá todo mundo lá numa sala, eu abro meu laptop aí eu começo a perguntar pra eles sobre os processos, o que que eles usam, quais são as dores que eles têm e bá bá bá… O que que eles gostariam de tentar resolver, onde estão as principais dificuldades, e eu vou anotando tudo, nesse sistema que a gente criou, que ajuda a gente a fazer essa coleta mais rápida, e aí assim que eu acabo, vamos supor, deu 1 hora, aí eu começo a apresentar o XD, ou o que a gente tem, ou os protótipos, dependendo do que eu identificar como mais… O que eu posso trazer de mais valioso, eu consigo lapidar o que eu vou falar baseado em tudo aquilo que eu ouvi. Então é um misto de coletar essas informações, pra trazer pro produto, com validar o que eu tenho que mostrar e também informar os usuários sobre o que a gente tem. Então é mais ou menos esse processo que a gente leva hoje, um misto de discovery e uma apresentação bem lapidada para o que eles precisam.
A: Essa apresentação, e mesmo a forma geral ou, por exemplo, ah… Tu comentou que vocês têm um user voice, ou algo semelhante dentro da Adobe, é… Na tua palestra, mas quando a gente tá falando disso, por exemplo, a user voice tem lá a feature que determinado cliente quer, e daí vai tem vários clientes que vai votar naquela, e de repente a feature que têm mais voto, não necessariamente é a feature que faz mais sentido estratégico para o produto. É… E ao mesmo tempo, daí já emendando nessa pergunta também, quando você vai apresentar um protótipo, por exemplo, pode ser que quando vai executar aquilo demore muito mais tempo para entregar aquele produto, do que de fato você tinha previsto. Meu ponto é: Existe uma expectativa que é gerada quando tem uma feature que é mais pedida, e tá lá em primeiro lugar, ou quando tu apresenta um protótipo aquele cliente fala: Putz… Isso aqui vai tá logo no produto de fato pra eu usar, mas na prática pode ser que isso demore mais tempo ou que a gente nem faça. Como é que tu faz essa gestão de expectativa?
D: Então, isso é muito interessante. Eu acho… É um assunto que a gente pode falar por horas, senão dias, assim… Tem muita, muita… Muito ponto interessante nessa área. Pra explicar o que que é user voice, então, hoje se você for no adobexd.uservoice.com qualquer pessoa pode sugerir uma feature, uma feature request, e fica lá registrado como… Vamos supor, eu quero vídeo no XD, suporte é vídeo no XD, aí outras pessoas podem votar nessa feature, todo mundo que votar se inscreve nessa feature, e sempre que o time de produto, vamos supor, começou a implementar… A gente muda o status para feature starter, e quando termina, feature completed, e todo mundo que participou daquilo com os comentários, com os protótipos e tal, recebe o email dizendo que aquilo lá tá pronto. Mas esse é o lado público, né? Então tem lá… Features com 6000 votos, 5000 votos… E a gente usa isso pra informar as decisões, o time de produto usa isso pra informar como que vai lapidar o roadmap e tal, mas não quer dizer que a gente vai fazer tudo que tá lá. É… Outro ponto que você falou sobre mostrar um protótipo, mostrar uma ideia e demorar muito, ou… A gente demorou 3 anos para entregar a live coediting, e a gente mostrou isso há três anos, na nossa maior conferência: Olha o que a gente vai fazer! E o desafio técnico, não só técnico do XD, mas técnico como Adobe, porque é algo que tem que se entregar com tudo que já existe, com o que o Photoshop faz, com o que o Illustrator faz. Então, foi assim um desafio enorme… Agora a gente entregou! Então assim, varia muito, eu acho que quando você tá num mercado que… Não existe… Não existe nada que já foi feito antes, como a gente tá fazendo agora, é muito difícil prever, né? O que que que vai acontecer. Então a geração de expectativas acho que é muito em cima de honestidade. Então a gente chegar pro cliente e explicar a história: Ó… A gente vai entregar isso, a gente precisa que vocês participem nesse processo, eles gostam de participar, e a gente vai sendo honesto: Olha, a gente tá com problemas técnicos, tá com bugs, vocês tão testando, vocês tão vendo os bugs, a gente precisa de outro time implementar tal coisa. Então assim, acho que… Sendo honesto e tendo esse canal direto com os clientes, no nosso caso os cliente mais corporativos, eu acho que não tem problema você atrasar, você… Eles vão entender, eles vão entender o processo, entendeu?
A: Esses clientes maiores, tipo a Intuit, ou… Enfim… Outros clientes nesse porte, você tem uma agenda recorrente com esses clientes? Tem determinados momentos que você sempre dá updates para eles? Ou são coisas pontuais?
D: A gente tenta, a gente tenta! É… Como são muitos clientes, sei lá… Milhares de clientes no mundo inteiro, né? Fica complicado a gente informar todo mundo. Mas a gente… Esse meu time de desenvolvimento estratégico, a gente tá com algumas contas, por exemplo, eu gerencio a Disney, a Intuit, a Microsoft, tem a HP… Várias empresas que cada pessoa tá responsável, e a gente tenta sempre tá conectado com eles, é… Quando tem novidade, todos os meses têm atualização do XD, mas não é nem pontual e não é nem muito frequente, é um… No meio do caminho assim…
A: Eu li, eu acho que em algum artigo teu, que… Ou tá no teu LinkedIn, que vocês têm também um Customer Advisory Board, ou algo nesse sentido. Quem que faz parte desse board? E como é que isso funciona dentro da Adobe?
D: Então, isso mudou muito já. Quando eu entrei na XD, em 2015, eu criei o primeiro Customer Advisory Board, o nosso CAB, né? O CAB, lá, e a ideia era trazer clientes corporativos, o AirBnb, o LinkedIn, a Microsoft, algum representante pra eles ajudarem a gente a validar coisas mais qualitativamente, assim… E foi super legal! Hoje em dia tem vários CABs pra vários produtos. O XD, até onde eu sei, a gente não tá com CAB mais funcional. O que a gente tem agora, algo que eu criei também lá atrás, é um prerealese program, onde a gente tem novidades de 2, 3 meses de antecedência com alguns clientes mais específicos, mas é algo mais: Um para muitos, né? Não é uma coisa tão direta, assim, como era o CAB. Mas, principalmente o time de enterprise, eles têm os CABs ainda.
A: Entendi! Pegando esse último gancho, tu também trabalha com a comunidade de beta tester? Ou alguma coisa nesse sentido que… Testa as primeiras versões desse produto, e dá feedback, enfim… Se tu trabalha, como é que tu monta essa comunidade também?
D: Então, a gente faz isso via prerelease, né? Então a gente… Faz essa curadoria pra convidar as pessoas proo nosso prerelease program, todos os meses a gente muda, hoje eu não gerencio mais, mas lá atrás ou gerenciava, eu lembro que a gente tinha reuniões quase que mensais pra gente dar uma limpada, ver quem não tava ativo, não precisa mais, e… Sempre que tinha uma feature mais nova… O prerelease program ele também variou muito, no começo era… Como o XD era pequeno, então era assim: Vamos testar o XD como um todo com esse grupo x. Hoje como tem muitas áreas diferentes, tem design, tem de prototipação, tem compartilhamento, tem design systems, tem… Sabe? Design responsivo, tem várias áreas separadas, então a gente consegue gerar builder mais específicos pra testar certa coisa, e a gente testa só com aquele pedacinho, aquele cold heart lá do nosso… Da nossa base do prerelease. Então é mais target, assim… Mais direcionado.
A: E agora falando um pouco mais, de… Que eu acho que é um gancho que tu fez umas respostas lá no começo… Mas, é… Tu tem essa função dentro do time da Adobe de puxar muito essa questão de comunidade, de tá trazendo as informações pra dentro do time dos outros PMs que tão trabalhando lá. Como é que é esse processo de trazer esse conhecimento que tu adquire? E conseguir influenciar eventualmente roadmap e etc. dos outros times, como é que isso funciona dentro da Adobe?
D: Uma coisa… É bem interessante, quando eu entrei na Adobe, sendo bem honesto, eu achei que… Por ter uma… Eu amava a marca Adobe, assim, né? Fiz eventos pra eles aqui no Brasil e tal, sempre fui super fã da marca, e quando eu cheguei eu imaginava que era tudo super organizadinho, assim… Sei lá, eu achava que o time do Photoshop era… O time do Photoshop há 30 anos, o time do Premier, o time do Premiere… Quando eu cheguei lá, eu vi que era um negócio maluco assim, em termos de flexibilidade, os times mudam o tempo inteiro, os squads mudam o tempo inteiro, dependendo do roadmap que a gente tá atacando, então assim, não é uma coisa muito: É assim, sabe? Sempre foi assim… O time do XD ele começou pequeno, hoje ele tem vários squads, mas assim… A gente sempre busca trazer esse feedback da comunidade, desde o começo, os product managers, como eu falei na palestra lá, eles são treinados a… Se alguém começa a elogiar muito, você meio que tem que mudar aquela conversa rápido, é legal receber o elogio, mas tem que mudar aquela conversa rápida pra poder começar a trazer feedback construtivo. Então tem essa cultura de buscar feedback o tempo inteiro. Outra coisa que é maluco, assim, que eu acho maluco, mas funciona super bem, é que o nosso time inteiro engaja no Twitter, no Instagram, nas mídias sociais… Então seu eu twittar qualquer coisa com a hashtag Adobexd, seja reclamando, seja mandando uma sugestão, alguém vai responder você, entendeu? O nosso gerente sênior de product, o Andrew 22:10, que foi meu chefe por quase 3 anos, ele faz a community dele lá, da casa dele até o escritório, ele leva uma hora, ele fica uma hora no Twitter só interagindo com as pessoas, e é surpreendente um diretor sênior falar de igual pra igual e responder, isso é super… Sabe? Às vezes os caras agridem a gente, ele é um cara que consegue gerenciar a crise muito bem, então ele fala: Obrigado pelo feedback, mas como é que você poderia ajudar? Isso quebra a perna da pessoa que tá atacando. Como assim? Esse cara me respondeu? Entendeu? Então acaba ajudando e criando um relacionamento direto, assim… Então, esse foco no usuário é muito grande na Adobe como um todo hoje, assim… Vários times tão fazendo isso, não escala, mas funciona.
A: Legal! Pegando esse gancho também, porque quando a gente tá falando da pessoa reclamando no Twitter, ou eventualmente, imagino que vocês têm um canal de suporte também, onde esses feedbacks chegam de alguma forma. Então, o teu papel é muito, me corrige se eu estiver enganado, mas pegar esses feedbacks proativamente, né? Ir atrás do cliente e colher esses feedbacks. Mas tem esse feedback mais reativo, que ele chega via canal do suporte, via atendimento, via twitter ou seja lá o que for… Como é que tu equilibra essas coisas também, e como é que vocês… Que eu acho que é um desafio quando começa a escalar, você recebe muito feedback, então como é que você trata isso e consegue tirar realmente informações que sejam construtivas pro produto em cima de um monte de dado que não é estruturado, é um… Eventualmente até meio desorganizado.
N: É, não… Lá, além disso, a gente tem toda a parte quantitativa também, a gente tem… Todos os produtos são instrumentados, então a gente consegue ver bastante coisa. Mas falando do feedback mais reativo, assim… Tem… Quando a gente identifica que um tweet exige uma conversa mais longa, e a gente não vai ter tempo de fazer, a gente envolve o @adobecare. Então tem um time de suporte que tá 100% dedicado, hoje, altamente treinado no XD pra pegar os arquivos dos clientes testar, criar um ticket lá no sistema de Tracking, resolver e tal. Então, quando é uma coisa mais longa a gente passa para eles e eles engajam até terminar. E se for uma coisa mais rápida, mais assim… Que a gente consegue responder logo como esses feedbacks mais simples, aí a gente mesmo responde.
A: Mas esses feedbacks reativos, assim, do ponto de vista de como é que tu usa isso pra melhorar o produto de fato? Do tipo: Putz, tá chegando muito feedback disso aqui, vamos prestar atenção que talvez essa forma de editar, sei lá, o componente de imagem não tá legal…
N: Não, com certeza! Isso já aconteceu várias vezes assim… De… Se for um bug, esse big começa a aparecer muito, o pessoal da Adobe Care vai também cadastrar isso no nosso Jira como um mega bug lá, a gente vai poder olhar isso como prioridade, isso é o caso da reclamação em termos de coisas não funcionando. Outras coisas também que acontecem muito, já aconteceu várias vezes da gente lançar alguma coisa num mês e a comunidade ficar maluca, por exemplo… Um exemplo disso é: A gente tem o design mode, o prototyte mode e o share, lá né? Então… A parte de fixar elementos no XD tava sempre no lado de design, então, eu queria fazer um scroll, deixar esse elemento fixo, tava sempre lá do lado de design. Como isso é mais, assim, comportamento, a gente mudou para o lado de protótipo e tirou da parte de design, a comunidade ficou maluca com isso, assim… O pessoal ficou, sabe? Twitter, é… No Facebook também reclamando… Aí baseado nesse feedback a gente voltou. Então agora na próxima versão a gente vai colocar de volta, mas é uma coisa bem pontual, assim… Não tem um processo muito rígido de que vai pra um sistema, é mais… A gente fala: Ei PM, olha só, vamos resolver isso aqui! Aí ele olha, conecta com as pessoas e isso volta ou não volta pra ferramenta. Tem muita flexibilidade, não tem muito um mega processo, assim, sabe?
A: Eu pergunto isso porque eu acho que… Tanto na RD que eu trabalhei, e agora no Nubank também, tipo… Processar esses dados, né? Que são não estruturados, de um monte de feedback que a gente recebe, e o PM conseguiu utilizar aquilo, de fato pra melhorar o produto, sempre foi um desafio. Na RD a gente até teve um momento que a gente tava olhando muito para isso que basicamente, cara… Cada PM pegava parte do produto que ele cuidava lá, e na mão ele lia todos os feedbacks e categorizava isso pra conseguir de fato agir em cima daquilo. E daí a minha curiosidade é se vocês têm uma forma mais inteligente de fazer isso?
D: Não! Eu acho que tem um pouco da pressão executiva também, se o diretor lá falar: Ei PM, olha isso daqui que tá feio! Aí o PM vai entrar em desespero e falar: O chefe do meu chefe do meu chefe falou para eu olhar, então eu vou olhar. Mas não tem um processo, assim sabe? Eu acho que se for um mega bug, como eu falei, vai para o Adobe Care e chega no nosso Jira, mas não existe um processo muito formal não. Eu acho assim… O importante é agir, eu acho que o mais importante é: Você não vai conseguir solucionar tudo, mas se você solucionar um pouco já vai ser melhor do que não solucionar nada, ou não interagir com nada.
D: E tangenciando essa parte, né? De colher feedback de usuário e percepção de qualidade que o usuário tem em cima do produto, é uma coisa que normalmente se usa muito em NPS. É… Vocês usam NPS também? Ou vocês usam alguma outra métrica pra medir a satisfação do usuário com o produto?
N: A gente tentou no começo usar NPS. A gente tá olhando pra ver se usa novamente, principalmente pra poder codificar diferentes áreas aí do produto, onde investir mais, mas agora a gente não tá usando. Uma coisa que… Voltando um pouco a pergunta anterior, que também é um pouco ligado à qualidade, assim… A gente usa o Slack, e tem vários canais o slack que mapeiam tudo que tá acontecendo no Twitter, tudo que tá acontecendo em… Sei lá, em… Baseado em hashtag, tal, em reclamação, no user voice também. Caiu no user voice aparece no nosso slack. Então esse feedback ele tá exposto não só pros PMs, mas pros engenheiros, pros designers… Então quando uma coisa começa a parecer muito, naturalmente o grupo como um todo vai notar aquilo e vai agir em relação àquilo.
A: Legal cara! E… Enfim! Depois desses anos todos de experiência que tu tem aí criando, mantendo e explorando comunidades de clientes etc. pra construir produtos, é… Se… Qual diga que tu daria pra uma pessoa ou uma empresa que tá começando a fazer isso agora? Que tá começando a criar uma comunidade em volta do produto, pra usar isso pra dar inputs na construção do produto em si?
D: Eu acho assim, extremamente fundamental, eu falei numa outra… Numa conversa que a gente teve, se você puder trazer o cliente pra dentro da empresa, que seja como um talk, sei lá, ou… Eu sou o PM, eu trago o meu cliente e eu entrevisto ele com o meu time ali… De engenheiros, o meu time de designers… Onde o próprio time possa fazer perguntas para ele, já é um grande começo, assim, sabe? Você tá trazendo… Quanto mais você trazer o cliente pra dentro da empresa, melhor. Aí andando pra frente, talvez coletar esses dados de uma forma mais estruturada, os dados qualitativos, né, de uma forma mais estruturada, pra poder fazer um tracking à longo prazo. Outra dia muito legal, você é product manager e vai visitar um cliente, seja pra fazer uma pesquisa ou pra apresentar alguma coisa, leva um engenheiro, leva um designer junto, sabe? Porque essa presença deles vai ajudar muito o que você tá fazendo como PM. É simples, não é difícil você levar uma pessoa dessa. E eu acho assim… Essa cultura de participação, trazendo o usuário é extremamente importante, tem funcionado muito pra gente, desde o começo, desde o comecinho vários times tão adotando essa… O user voice, por exemplo, todos os produtos da Adobe hoje usam o user voice, desde que a gente validou, e tem muito assim também, como o PM de você ter uma atitude de não se apaixonar por aquilo que você tá fazendo, porque você tá testando uma hipótese, você tá criando algo pra tentar solucionar o problema, e se você se apaixonar ou querer trazer a desenvolvedor, ou querer trazer o designer pra eles verem: Ó, é isso que eu quero… Sabe? Não é legal! É legal você ir com uma abordagem de: Vamos conversar com o cliente, todo mundo como antropologista neutro, vamos ver o que eles falam, vamos respeitar, se ele não gostar, sabe? Evitar conflito e tal, mas realmente ter essa abordagem de antropologista pra validar uma hipótese, trazer o time junto, trazer o cliente e… É fácil! Não é difícil. A partir do momento que você começa a se apaixonar pelo que você tá fazendo, pela a feature, você tem mais chance de se frustrar, mais chance de criar conflitos internos, então acho assim… Se você tiver essa cabeça mais aberta, você vai ter mais formas de trazer feedback valioso aí pro time.
A: Tem… Na tua cabeça, assim… Referências é… De coisas pra estudar, de assuntos pra estudar? Tu falou de antropologia agora, por exemplo, que ajuda no processo de construção disso… Tem alguma coisa que tu lembra que foi um divisor de águas para ti, de quando tu sei lá… Um livro, alguma coisa que te ajudou a fazer isso?
D: Tem! Tem! Tem o… Quando eu comecei minha carreira de design thinking lá atrás eu lembro… Antes mesmo de ir pra Stanford lá, ser treinado lá, eu lembro que… Tem um livro… Acho que é Design by Change, o nome, do Tommy Kelly, que é irmão do David Kelly lá de Stanford, sabe? São detalhes assim… E quando você lê tudo aquilo, você vê que: Putz, eles tão sendo humanos. Eles não tão fazendo nada mais do que serem humanos, assim, sabe? Não tem essa coisa de ego, não tem essa coisa de querer mega promoção… Eu acho que… Em termos de referência, hoje em dia tá muito fácil aprender qualquer coisa. Tem o curso PM3 lá, que é fantástico! É… Eu gravei uma aula lá de descoberta de necessidades, então, se vocês quiserem ver mais detalhes… Eu acho que olhar Design Thinking e olhar Design Springs tem muito conteúdo aí fora, Mindset também. Tem um livro chamado Mindset, que é o livro que mudou a minha vida, como pessoa mesmo, assim, da Carol Dweck… Mindset! Se vocês puderem ler esse livro, assim… É um livro transformador, assim… Porque ele faz você entender que… A forma que você pensa influencia em tudo que acontece na sua vida. Então, as escolhas que você faz, como você fala com você mesmo, tem vários exemplos reais de pessoas que adotaram diferentes mindsets com diferentes resultados… Então assim, se eu puder recomendar um, seria esse Mindset, da Carol Dweck.
A: É… Nosso tempo tá acabando, dessa parte pelo menos, daqui a pouco a gente entra no AMA, muito obrigado pelo tua participação aqui hoje.
D: Beleza, eu que agradeço, valeu!
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A: Bom, a gente vai começar então o AMA aqui com o Demian. É… Só reforçando vocês podem fazer as perguntas no One Ask ali, tem… Vocês podem votar também nas perguntas aí que vocês querem escutar as respostas obviamente. É… Eu vou até começar com uma que não tá aqui Demian, mas uma das coisas que tu falou bastante foi essa questão de gestão de tempo, né? De… A gente conversado antes, e mesmo aqui durante o podcast, falando muito sobre isso… Qual que é o teu principal hack aí de gestão de tempo pra conseguir dividir muito bem essas coisas profissional, pessoal e etc?
D: Com certeza! É uma pergunta excelente! Eu acho que pra mim o que funciona muito é eu bloquear no meu calendário certos horários pra mim. Eu tenho lá… 2 horas todos os dias pra o que eu chamo de criação, Creating, e eu… Tá lá bloqueado no meu calendário, se alguém acessar o meu calendário vocês não vão conseguir marcar porque eu tô bloqueado, esse é um exemplo. Outra coisa é: Eu me esforço muito pra quando eu tô com a minha família, eu estar com a minha família mesmo, quando eu tiver no final de semana também, tá com eles, realmente focar nisso. Mas eu acho que é… Não tem problema… Muita gente espera que… Ou tem essa percepção de que se você fala: Não, não posso porque eu tô ocupado, pode ser ruim. Mas na verdade não, e é normal isso acontecer. Então eu acredito muito nessa coisa de você falar que você não pode, se você não puder mesmo, e não tem, não tem segredo. É realmente você ser dono do seu tempo, entender que o seu tempo é algo mais valioso possível. A questão das distrações que eu falei na minha palestra, eu identifiquei, eu passei muito tempo identificando as minhas distrações como: Ficar dando scroll em Instagram, ficar vendo Facebook, ficar… Até mesmo no Twitter, mesmo, eu tenho um limite, não fico muito tempo. Então assim, identificar isso e poder… Entender que isso toma o que eu tenho de mais valioso que é o tempo, e agir em relação a isso.
A: É… A gente falou também de alguns livros que tu citou durante esse processo que a gente tava falando de… Como construir comunidades etc., mas falando de Product Management Overall aí… O que que tu indicaria? Quais são os 3 livros que tu indicaria pra qualquer PM?
D: Livro de Product Management? Ã… Eu tô muito próximo do time da Product School lá, de São Francisco, e eles têm materiais fantásticos, assim… Tem o Product Book, que eu acho que é um resumo de vários pontos de vistas diferentes, e se eu não me engano ele é disponível gratuitamente na internet, tá lá também, é super bom! Eles também fizeram um book de mindset pra Product Management, Então esses 2 eu acho que são bem interessantes. Mas mais do que livro, eu acho que hoje tem muito podcast, o seu podcast, tem vários podcasts de product management. Inclusive a Product School lançou agora uma lista com os mais recomendados pelas pesquisas que eles fizeram, a gente pode até colocar o link lá pra vocês. Então eu diria que é um mix de livro com outras formas de consumo, assim… Eu sou um cara que eu sou muito visual e auditivo, então eu gosto de ler, mas eu rendo muito mais se eu tiver ouvindo, por exemplo, eu uso muito o audible, do Amazon, e eu escuto… Leio livros enormes, assim, quando eu vou… Sabe? Dirigir ou fazer alguma coisa nesse sentido.
A: E de uma forma geral também, o que que é um bom PM pra ti?
D: Bom PM para mim, baseado no que eu já vi, é um cara que consegue lidar com situações estressantes, de uma forma tranquila, de uma forma intencional, assim… De você poder identificar o problema, quase que um soldado numa guerra, né? Você vai ter que… Rapidamente identificar o que tá acontecendo, pensar numa possível solução e agir em relação àquilo. Então, é um cara que consegue levar essas porradas, mas consegue ter o controle emocional pra poder encontrar uma estratégia, sugerir uma estratégia e envolver as pessoas que podem ajudar aquilo ser resolvido, em vez de criar pânico e criar mais estresse.
A: O que que é um bom produto pra ti?
D: Um bom produto pra mim é algo… Pode ser um serviço, pode ser uma experiência, pode ser algo físico, assim, onde aquilo, pra mim especificamente, vai me tornar melhor, vai me dar tempo, eu vou levar menos tempo pra fazer certas coisas… Eu sou muito viciado, assim, em surf, em esportes e tal, e ano passado eu escutei muitos podcasts assim de… De performance, e lá falava muito disso assim… De você sempre tentar melhorar e tal. Então, é… Essa coisa de… Você criar um… Você… Pra mim essa coisa de produto bom é algo que realmente me transforma em algo melhor, ele amplifica o que eu faço hoje, então ele tá me dando mais poder, vamos dizer assim.
A: Como é que tu priorizou os teus estudos em Project Management no início da tua carreira? E se tu fez algum curso, ou o que que tu tá estudando agora nesse sentido?
D: Agora eu, assim… Eu amo estudar! Eu tenho quase 40 anos e eu amo estudar, não paro de estudar, eu acho… Eu gosto muito de ensinar também. Eu acredito que ensinando você acaba reforçando muito o que você aprende. É… Eu tenho me envolvido muito com o Product School, eu gravei aqui a minha aula de discovery aqui no PM3, nos cursos PM3. Então assim… É algo que eu busco muito tá ensinando pra poder validar. Em termos de estudo, eu acho assim, quanto mais eu estudo, mais eu vejo e mais ou valido que um bom product manager é muito algo… De uma atitude que você acaba tendo. Então, você entender que você tem que agir com maturidade, que você tem que agir com controle emocional, que você tem que agir com estratégia… E não tem segredo! Não tem uma fórmula mágica, assim… Que ah, se eu fizer o curso tal eu vou ser um bom PM, se eu fizer o curso Y, eu vou ser um bom PM. Eu acho que é muito uma mudança de atitude, assim… E um pouco de assim, quanto mais você vê essas coisas, mais fatos você vai usar pra poder agir assim. Então eu aprendi, por exemplo, agora que se a coisa ficar feia, eu tiver um problema enorme, a minha estratégia é: Analisar aquele problema, não entrar em pânico, analisar aquele problema, prover uma ou duas soluções e só envolver quem pode ajudar naquela solução. Mas assim… Algo que tá lá no curso, então me ajudou como fato: Ah beleza, é assim mesmo! Mas não é uma coisa muito… Que nem uma ciência da computação, ou que nem algo mais… Que exige muito estudo, muito… Sabe? Muito… É mais uma mudança de mindset, eu acredito, assim…
A: E tendo convivido aí com diversos profissionais no mundo todo, é… Qual conselho que você daria pra uma pessoa que tem a intenção de ter uma escalada profissional internacional, né? Por onde começa? Se existe alguma skill ou qualificação específica pra focar, em linhas gerais, o que é mais valorizado por empresas fora do Brasil?
D: Excelente pergunta! Eu acho assim… Primeiro, como tudo na vida, ter muita estratégia, né? Então fazer uma pesquisa, ver quais são os… Onde você se enquadra no seu cenário de, sei lá, imigrante, seja Estados Unidos, seja Europa, quais são as opções que você tem. Eu… Eu, assim, eu pesquisei muito e descobri que se eu fizesse aquele curso de Business eu ia conseguir a permissão de trabalho pra poder entrar nos Estados Unidos e trabalhar lá legalmente. Então eu segui essa estratégia. Eu acho que estudar e procurar é muito importante. Outro ponto muito importante que eu acho que a gente tem como vantagem competitiva, por vim de outro país, é que as empresas lá fora elas tão buscando perspectivas diferentes como nunca, assim… É muito interessante isso. Então, eles não querem o mesmo americano bá bá bá… Que saiba fazer aquela coisinha do jeitinho deles. Então você tem essa vantagem de trazer uma perspectiva diferente, um jeito de olhar pro problema de uma forma diferente. Então isso é uma vantagem competitiva. O inglês, sem dúvida nenhuma, né, tem assim… E também… Tá mais fácil do que nunca você aprender inglês hoje na internet, no YouTube, assistindo filme, repetindo… Eu tô lá há 10 anos e ainda tô tendo aula de redução de sotaque, por exemplo, pra você ter uma ideia, pra tentar melhorar, tem vários detalhezinhos… Eu sei que eu nunca vou ser perfeito, mas eu tô tentando sempre melhorar. Então assim… Ter estratégia, fazer a sua pesquisa e entender que o que você tem aqui é um diferencial competitivo, e… Acho que assim… O principal é: Tudo na vida é baseado em relacionamento. A chance de você entrar na Adobe, por exemplo, simplesmente mandando currículo, é muito menor do que você ir num evento e conhecer o cara da Adobe, não tô falando eu, tô falando em geral, e… E… Sabe? Criar uma conexão, aborda o cara no LinkedIn, com respeito, entendendo o tempo dele, e isso tudo lá na frente vai funcionar. Eu, por exemplo, eu organizei vários eventos pra Adobe aqui no Brasil em 2008, 2009, de lá, né, mas organizando aqui no Brasil, e conheci várias pessoas da Adobe, e quando eles precisaram daquela pessoa com foco em usuário, foco em design thinking, foco em comunidade, eles lembraram de mim e foi uma porta de entrada. Eu nunca tive que mandar um currículo, assim, sabe? Então eu acredito que é um mix de estratégia com construção de relacionamento.
A: Falando de coisas que não deram tão certo assim, é… Quais foram as maiores cagadas que tu fez e que tu ajudou a fazer, e como é que tu contornou esses erros depois?
D: Acho que a maior cagada minha, assim, pessoal mesmo, quando eu tava…. Nos Estados Unidos… Eu tava… Numa agência, eu era diretor de interativo da agência, trabalhando com flash e tal, fazendo um monte de coisa legal, aí eu fiquei, eu pensei assim: Poxa, eu… Eu tô fazendo tudo isso e tô trazendo esse faturamento todo pra essa agência, por que eu não faço o meu negócio, né? E achei que ter conhecimento técnico era suficiente pra ser dono de uma empresa, e foi a maior cagada da na minha vida. Eu aprendi! Eu aprendi muito! Mas assim… Foram 2 anos de dono de empresa que literalmente eu fui o próprio otário, né meu? Muito complicado, numa época de crise dos Estados Unidos, e tive péssimas decisões nesse processo, um deles foi querer contratar só americanos, dá os melhores benefícios pra eles, cuidar deles e mandar eles pra conferências e tal, e ali em vez de contratar alguém no Brasil, que seria mais barato e tal, e lá na frente talvez poder pensar nisso. Então assim, acho que o maior aprendizado dessa decisão ruim foi você saber algo técnico, você ser um bom designer tal, não quer dizer que você vai ser um bom… Um bom business, uma boa pessoa de business, né?
A: Tu traz algum aprendizado hoje como PM, por exemplo?
D: Com certeza! Com certeza! Principalmente essa coisa de lidar com diferentes pessoas, né? Eu tinha que criar as propostas, eu tinha que falar com outros executivos, eu tinha que falar com desenvolvedores, eu tinha que falar com os designers, então essa… Habilidade de mudar minha conversa, o meu vocabulário pra falar com diferentes áreas, realmente avançou muito nesse cenário de… Crítico aí que eu tava naquela época. Isso eu uso até hoje, mas eu acho que cagadinhas menores, assim, a gente faz o tempo inteiro, acho que principalmente nesse mundo de PM a gente tá arriscando com permissão, né? E des… A minha filosofia de vida, eu tenho um quadro na minha casa que, se você se esforçar e você aprender com os seus erros e tal, usando esforço e aprendizado, você vai conseguir avançar e ter sucesso na vida, no produto, o que seja…
A: Tu falou durante o nosso papo anterior, né… Tu falou do que tu tava construindo, tinha um produto pra fazer pesquisa dentro da Adobe. É… Quais são as principais funcionalidades desse produto, enfim, desse software que utiliza lá? E por que que isso é diferente de um template de DOC, por exemplo?
D: Então, na verdade isso é uma coisa que eu inventei esse ano, porque o nosso time de discovery tá crescendo, a gente tem pessoas no mundo inteiro, a gente vai nas empresas de forma qualitativa, a gente coleta dados fantásticos, mas ele vai viver num template do Google DOC, ele vai viver num template do Evernote, ele vai viver num template… E não tem como você quantificar e analisar esses dados qualitativos, então a minha ideia com esse software, né, esse protótipo, é realmente criar um sistema onde eu possa coletar esses dados com o meu time e ao longo do tempo a gente poder avaliar se a adoção melhorou, se a gente perdeu, se a gente teve to earn, se a gente é… Se as features que tá o cliente, por exemplo, eu vou em vários clientes, se a feature que aquele cliente pediu foi entregue, eu tenho que avisar ele quando for entregue, então várias funcionalidades, mas acho que principalmente ter esse lon… Esse… Vai ajudar no nosso relacionamento de longo prazo, sem ter que ser um CRM, sem ter que ser um Sales Force da vida, que vai ser muito grande pra o problema eu acho.
A: Qual o melhor momento pra começar a pensar numa cultura de design? Acho que tu… É, assim… Participou, não sei se tu participou desse processo dentro do XD, mas já assumindo que a Adobe já deve ser uma empresa que tem essa cultura de design muito forte, então já emendando também assim, qual que é o momento pra empresa começar a pensar nessa cultura de design? E o que que tu acha que são grandes pilares dessa cultura de design dentro da Adobe?
D: Eu acho que… A cultura de design… E design quando eu falo em design não é só mexer em pixels, né? Não é só manipular pixels. É design de… Em termos de criação mesmo, né? Você trabalhar nesse cenário de criação. E eu acredito que ela deva existir desde o começo, e o processo de design ele começa com o entendimento do problema. Então qualquer empresa, nova ou madura, eu realmente recomendo começar pelo processo de descoberta, nesse processo de design, no processo de descoberta, e antes de qualquer… Perspectiva, de qualquer… ação né, que eu acho que eu tenho, não é… Vai ser assim porque eu acho que vai ser assim… Você realmente passar o tempo necessário pra validar o problema, entender o problema, é… Quebrar o problema em problemas menores, é o passo inicial, assim, fundamental. Na Adobe a gente faz isso desde o começo, o XD nasceu disso realmente, ele nasceu quando a gente validou aqui o Photoshop e o Illustrator, eles não são softwares pra design de UX, eles são… Photoshop é o melhor app pra… Pra manipulação de pixel e o Illustrator é o melhor app pra manipulação de vetores, é isso. O XD nunca vai ser o Photoshop, nunca vai ser o Illustrator, e ele nasceu dessa necessidade das pessoas desenharem, criarem protótipos e validarem de forma rápida… De forma rápida.
A: Legal! É… Quando a gente tá falando de empresas que tão crescendo, tem famosas dores de crescimento durante esse processo, e eventualmente você tem que fazer uma mudança de foco, de focar mais no cliente, que é o que tu falou muito aqui, e deixar de ser o famoso hipo, né? O cara que tem o salário mais alto da sala, e é o que tem a opinião mais forte. Como é que tu… Como é que tu faz essa mudança? Não sei se tu já passou por isso em alguma dessas tuas experiências?
D: Eu acho que a… Isso é uma coisa muito crítica, né? Muito importante! Você depender muito de um CEO e tal pra ter as decisões mais importantes é algo muito arriscado. Na Adobe isso não existe, é realmente… Tudo, absolutamente tudo, é validado com os usuários. Vários protótipos não foram pra frente porque a gente achou que era certo, colocou na frente do usuário, com o time de pesquisas, e falou: o que que é isso? Aí… Morre ali ele mesmo, sabe? Então… Tem que ter esse filtro, eu acho, de teste, de validação… A gente tem isso na Adobe, a gente tem um filtro de qualidade também… Automatizado… Também com pessoas, pra realmente a gente correr o menor risco possível, correr risco, mas o menor possível.
A: É… Tu fez um curso em Standford que tu comentou etc., acho que Design Thinking, se eu não me engano, tu pode comentar um pouco de como é que foi esse curso? Enfim, o que que te marcou de aprendizado nesse curso…
D: Eu fiz alguns cursos lá, o que eu mais gostei foi o curso de um bootcamp de Design Thinking que eles têm lá, e você passa pelo processo, isso há muitos anos atrás. Você passa o processo todo de Design Thinking, e é muito legal, assim, a primeira coisa que eles falam é: Vamos falar com as pessoas, vamos trabalhar como antropologista e eles mostram vários cases reais de como eles fazem as coisas lá, né, na Ideal e tal. E eles realmente investem muito nessa área de discovery antes de cair no mundo de solução. Até vi uma palestra um tempo atrás muito interessante que… Muitas empresas fazem discovery, mas é só… Sabe? Pra meio que: Ah, é isso mesmo! E não pra realmente investir e entrar deep no problema. É um curso que… Eu recomendo, caro, mas assim… Hoje em dia você consegue estudar o mesmo conteúdo na internet sem ter que pagar tanto. Tem muito muito… Como eu falei, tem muita coisa pra… Assim, acessível hoje, como não tinha talvez há 10, 15 anos atrás.
A: Bom, eu costumo falar muito também que eu acho que pra você conseguir ser um bom profissional você precisa desse equilíbrio de vida profissional, pessoal, autoconhecimento e uma série de coisas nesse sentido, e tu comentou muito aqui hoje sobre o comportamento, sobre equilibrar essas coisas também. O que que tu tem de práticas no dia a dia? Eu sei que tu surfa, por exemplo, não sei se o surf é uma dessas… Mas o que tu tem de práticas no dia a dia pra conseguir esse equilíbrio aí?
D: Só pra criar um contexto assim rápido também, uma pessoa do Google, uma pesquisadora do Google foi na Adobe e ela falou sobre a mudança de comportamento dessas novas gerações, né? E não existe essa separação mais entre trabalho e vida pessoal, tá cada vez mais misturado. Então… Grandes decisões que os PMs têm, que os diretores têm, às vezes são feitas num restaurante, às vezes são feitas no avião, às vezes são feitas… Sei lá, em momentos que não eram, pra talvez, serem feitas. Então, não existe muita essa separação. O que eu acho importante é você ser muito consciente e proativo em relação a forma que você usa o seu tempo, e como você usa esse seu tempo, de forma qualitativa. Então, ainda não sou perfeito, tô longe de ser perfeito, mas as melhores ideias que eu tive foi quando eu tava com a minha família, quando eu tava surfando, em momentos que eu tava desconectado daquele modo reativo de e-mail, de… Sabe? Uma coisa que eu achei super interessante, que também já vi muita gente falar, é que o e-mail deixou de ser algo que precisa ser sempre respondido. Eu entrei nessa área de pensamento e… E comecei a ter mais tempo também, sabe? Se for importante vai chegar de novo, sabe? Não é uma coisa que… Que nem eu tô aqui, tá chegando um monte de e-mail, eu vou olhar e tal, mas… Eu acho que é muito importante você ter essa abordagem de identificar as suas distrações e ter o seu tempo de processamento, de pensar… Doa a quem doer, sabe? Você é o Product Manager da sua vida. Então, foque em otimizar o seu processo da melhor forma possível.
A: Legal! É… Como é que funciona o processo QA no teu time? Ou… Não sei se pode falar por dentro da Adobe, como um todo, que eu imagino deve ter várias diferenças… De quem que é essa bola de garantira a qualidade? É produto? É engenharia? Bug? Responsabilidade de produto? Engenharia de design? Enfim… Quem que é responsável por isso?
D: É mais o pessoal de engenharia, a parte de bugs, assim né… A gente tem os PMs identificando os bugs, registrando os bugs. O nosso time cadastra bugs o tempo inteiro também, mas a gente tem um time grande de Quality Engeneering na Adobe, é… De… Que trabalham com formas automatizadas, né? A gente tem software rodando pra fazer teste unitário, teste de integração, a… Desde o começo. Então, a gente tem que suportar Mac, Windows, Web, iOS, Android, então tem várias formas automatizadas de fazer esses testes, e a gente também tem uma grande… Uma grande área, assim, de pessoas realmente testando, de pessoas reais testando as funcionalidades, checando item por item, clicando em item por item, que é o que realmente blinda, eu acho, e minimiza o risco de a gente lançar algo com um problema muito grande. Então na Adobe é… Um misto de automação e… Pessoas, e tem funcionado super bem. Todos os times da Adobe são assim. O time de Premiere, por exemplo, de vídeo, eles têm uma laboratório enorme, até um dia se alguém for lá em San Jose, ou em São Francisco, me manda um e-mail… Eu mostro pra vocês, faço um tour na Adobe. Já levei várias pessoas aqui desse mundo de produto, e vocês vão ver lá no andar do Premiere eles têm uma sala só com vários computadores diferentes, onde eles testam o Premiere em vários stups diferentes, pra realmente garantir que não vai ter problema ou minimizar o problema, né?
A: Tu falou muito de feedback aqui. É… Feedback qualitativo, vindo de usuário e etc. tem também esse lado todo de quantitativo que a gente discutiu um pouquinho na parte suporte, mas imagino que tem outros N dados que vocês avaliam, mas de uma forma geral, como é que tu consegue avaliar o que que realmente é informação pertinente pra construir aquele produto, o que é ruído simplesmente?
D: Eu acho que assim… Na parte de produto, principalmente quando eu tava no time code de Product Management do XD, a gente trabalhava muito perto do time de Analytics, e a gente instrumentava o produto baseado nas nossas perguntas. Então, eu como PM definia as perguntas e trabalhava com um time de Analytics pra instrumentar o XD, de uma forma que fosse responder as nossas perguntas. Então a gente tinha lá uma funcionalidade X, que dependia de 3 cliques. Então, tinha lá um funil que a gente defendia… Definia junto. E a gente olhava esses dados todos os meses, isso a parte mais quantitativa, né? O lado Enterprise, que é o que eu mais tô agora, a gente não pode, legalmente, chegar a esse nível de detalhe, até por isso a gente tem esse time de feedback qualitativo, de discovery, indo nas empresas… E aí esse time realmente ele vai, pega as features de forma bem qualitativa, e a gente tem reuniões… Mensais, assim, onde a gente se alinha e discute isso, tem o Ruddle que eu falei em uma outra parte aqui também. Toda quinta-feira a gente tem essas conversas mais abertas onde a gente mostra o que tá sendo feito, o que tá sendo coletado e… A gente tem discussões mais saudáveis… Então é um misto de… Instrumentação quantitativa, com essa área qualitativa, e eu acredito que o que influencia mais, 90% do tempo, é o feedback qualitativo, pelo menos até agora no XD.
A: Legal! É… Bom, tu falou várias coisas pessoalmente, tua mesmo, mas… Tu se considera que tu tem um perfil mais técnico, mais de people? E pra essa posição que tu tem de… Putz, tá em contato com o usuário, tá colhendo feedback, levar isso pra dentro da empresa, tu vê isso que é… O que que pesa mais, né? Essa parte mais técnica? Ou a parte mais de people de… De gestão de pessoas?
D: Mais people, com certeza. Com certeza! Eu a… É legal você ter essa…Esse background técnico pra conversar com os times de engenharia, se você tem um Squad com vários engenheiros e tal, mas de novo, respeitando que eles são os fazedores de decisão, né? Eles que vão ter as decisões dos tec e tal… Eu cansei de ver Product Managers que são… Que eram engenheiros, deixando o time de engenharia tomar decisão, e ter esse mindset de: Eu não vou influenciar os tec que eles vão escolher. É muito importante ter essa… Essa diferenciação. No mundo de PM eu acho que… Essa relação humana de você poder entender e agir como um antropólogo mesmo, de você ficar neutro, sabe? Se às vezes você faz uma pergunta e a pessoa não responde, entender aquele silêncio, não influenciar a resposta, isto tudo é muito mais importante do que eu saber se é Java script, se é iOS, sei lá…
A: Cara, falando de concorrência, né… Então, acho que pegando o exemplo do Figma, aí por exemplo, que acho, imagino que deva ser um concorrente grande de vocês hoje… É… Como é que vocês veem essa relação com concorrência… É… Como que… O que que que vocês aprendem com isso? Incomoda vocês? Não incomoda? Enfim, como é que vocês interagem com a concorrência?
D: Essa pergunta é… É uma pergunta excelente! A gente tem um respeito enorme entre as ferramentas, assim… Alguns com a gente nem tanto, ah… Mas a gente tem um respeito enorme com todos. O Figma, especificamente, a gente tem um relacionamento excelente com eles. A gente não… A gente se esforça pra não se influenciar com o que tá acontecendo no mundo deles. A gente tá focado no nosso usuário e tal, mas chegou o ponto de a gente ter um release e o Figma mandar um bolo pra a gente de parabéns… Parabéns XD, sabe? A gente tirou foto e tal. Então tem esse respeito mútuo, assim, sabe? Que a gente sabe que… No final das contas quem ganhou… Quem vai ganhar é o usuário. Mas a gente se esforça pra não se distrair com o que eles tão fazendo, pra não influenciar nossa procura, nossa busca aí por valor. Tem outros… Outros concorrentes que são mais agressivos e lançam anúncios na nossa maior conferência… Chegou em Las Vegas, por exemplo, a nossa conferência tinha lá um painel enorme do nosso concorrente, aí não é tão… A gente não faz isso, mas eles fazem. É… Mas Figma, Sket, a gente respeita eles bastante.
A: Como é que funciona a autonomia de tomada de decisão dentro da Adobe? Se como PM, é… Ou pelo menos quando tava dentro de core, né… Não sei como é que tá a situação hoje… Tem autonomia pra tomar as decisões hoje que precisa? Ou a hierarquia é muito forte? Como é que funciona isso?
D: Eu acho que hoje em dia, na Adobe, tudo é muito temporário, assim né… Os… As hipóteses que os PMs geram, elas vão ser validadas e ser polidas ao longo de muitas reuniões, muitos encontros… Então não tem essa coisa de: Ah, eu decidi isso, vai ser assim. Então, é uma coisa muito conjunta, não tem algo que venha do CEO. Então tem muita negociação, tem muita conversa, muitos dados qualitativos, um pouco de dados quantitativos também, pra influenciar, mas… Tudo passa por muitas mãos, assim, sabe? Não é uma coisa muito: Ah, eu sou o dono disso e vai ser assim e pronto, sabe? Não existe isso na Adobe, é bem negociado assim. Ter técnicas de negociação também é muito bom como Product Manager, e é o que eu pessoalmente tô tentando melhorar bastante.
A: Pode dar uma noção do tamanho da Adobe hoje? Quantas pessoas trabalham ou até falando… E até falando do XD também, quantas pessoas trabalham no XD de produto, engenharia, design, enfim…
D: Aham! Hoje, hoje na Adobe, a última vez que eu chequei tinha mais de 20.000 funcionários, no mundo inteiro, as… As unidades de negócio elas ficam na Califórnia, Nova York, tem na Romênia e tem na Índia, o resto é mais sales, marketing… E pra complicar um pouco mais são várias clouds. Então eu tô na creative cloud, que a Adobe tem lá o nosso CEO, mas aí tem várias clouds. Tem a Creative Cloud, que são todos os apps, Photoshop, Illustrator, XD, tem a Document Cloud, que é o Acrobats, tem o Sign, tem toda essa área de documento e tal, e tem a outra cloud que é a Experience Cloud, que era de área de marketing, que é um outro mundo, assim, enorme, contratos enormes… Se você for hoje no… Num site de compras, por exemplo, pesquisar alguma coisa e não comprar, e você vai no Instagram e aparece no Instagram a propaganda daquilo, provavelmente é a Marketing Cloud da Adobe que tá rolando ali atrás, é um dos biggest players, se não for o maior, mas falando da Creative Cloud e do XD, o XD hoje… Eu acho que a gente tá no core, no core, tá perto de 200 pessoas, e mais 300 aí apoiando em outras áreas, diretamente. A proporção eu diria que é… A gente dividida em Squads, 3 pilares principais: Produto, engenharia e design. Pra cada Squad de… Sei lá… 10 pessoas a gente tem 1 PM, 1 ou 2 designers e o resto engenheiros. Engenheiros de código mesmo e também quality engineers, né, de quality e… Essa seria a proporção.
A: Quais os principais diferenciais, né… Tu falou muito assim… Tipo ah… XD tem uma pegada, de repente, a galera do Photoshop tem outra, até de um ponto de vista de release, Photoshop acho que a cada 6 meses que tu comentou… O XD uma vez por mês… É… Como que tu vê essa relação… As diferenças entre essa relação do time do XD com os outros produtos da Adobe?
D: Existe uma relação, mas os times são bem dependentes, os times eles trabalham de forma bem dependentes. Agora que a gente lançou, por exemplo, colaboração e tal, real time editing, que são funcionalidades que dependem de outros times, aí sim a gente tem que realmente se integrar… Nesse cenário da Creative Cloud, uma forma mais… Mais comum. Mas se for algo mais específico, os times são totalmente independentes, o Photoshop faz o que eles quiserem, a gente faz o que a gente quiser. A gente agora tá investindo muito em 3D também, então também tem uma área nova de 3D, realidade aumentada. A gente acabou de comprar uma empresa de modelagem 3D, então você coloca lá o óculos e consegue fazer o seu design 3D. Tem o mundo de dispositivos móveis também, mas os times são bem independentes, assim…
A: Cara, pra gente finalizar, é… Acho que ao longo da tua carreira aí, que já é bem longa, passando de novo, cara… Paypal, Adobe, Blackberry e por aí vai… Certamente durante esse processo todo tu desenvolveu algum aprendizado que tu carrega com ele até hoje, e sempre que tu tem oportunidade tu passa ele pra frente. Que aprendizado é esse?
D: Eu acho, assim… Mais do que a qualidade técnica ou essa coisa de crescimento corporativo, o mais importante pra mim, pessoalmente, que definiu a minha carreira foram os relacionamentos. Então assim… Eu trato os relacionamentos de uma forma muito cuidadosa, é… A indústria de tecnologia é muito pequena, então assim, todo mundo se conhece. Eu… Eu diria que… Não vale a pena você comprar certas brigas, então, tem que ser… De novo, ser muito estratégico… Realmente ter essa cultura de PM e pensar: Se eu comprar essa briga o que que eu vou ganhar? Vai mudar o que? Sabe? Quem que eu vou machucar? E, se tiver esse cenário, pra que, sabe? Não precisa! Porque lá na frente vai… Vai voltar. Tudo que você faz aqu, é um mundo muito pequeno! É um mundo muito pequeno! Eu trabalho com pessoas de várias empresas diferentes que eu já trabalhei na época da Blackberry, na época do Paypal… E se você for uma pessoa boa, que ajuda os outros… Eu falei na minha palestra também… As pessoas elas buscam se sentir bem, se sentir… Sabe? O que eu tô fazendo importa. Então, no meu aprendizado, o que eu mais aprendi é que sempre que eu ajudo o outro, eu me sinto bem, assim sabe? Mais do que salário, mais do que promoção, então, eu acho que a dica é mais essa, invista em relacionamentos, que vai valer a pena!
A: Cara, muito obrigado Demian. Acho que quem tiver interesse em escutar esse e outros podcasts, vão tá no productbackstage.com.br. Tá no Spotify, iTunes, Google Podcast também e, de novo, muito obrigado pela tua participação aqui hoje.
D: Obrigado, eu que agradeço! Prazerzaço!, valeu!
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